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segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Le Monde: Direita francesa e republicanos nos EUA se rendem aos discursos "vazios"

Jean-François Cope, do UMP (União por uma Maioria Popular), é o líder da oposição francesa

Para além de uma briga entre galos franceses, o que há em jogo na guerra suicida entre os líderes da UMP? Para fugir da fadiga causada por esse espetáculo, é tentador ir buscar fora da França novos ângulos de análise, perspectivas inéditas.

Há um continente familiarizado com esse tipo de situação, onde os dois candidatos de uma eleição se proclamam simultaneamente vencedores e se recusam obstinadamente a ceder, até a autodestruição: a África. Logística eleitoral monopolizada pelo presidente em final de mandato, incapacidade de proclamar resultados verossímeis, eleitores pegos como reféns de uma luta de egos: as falhas de certas eleições africanas muitas vezes são comentadas com condescendência na ex-potência imperial que é a França. Esses africanos decididamente não estão maduros para a democracia, sussurra-se.

Mas é em outro continente, nos Estados Unidos, que as verdadeiras razões da grande ruptura da UMP acabam sendo esclarecidas, com a derrota de Mitt Romney. A direita francesa e os republicanos americanos parecem sofrer da mesma incapacidade de renovar seus discursos sobre o papel do Estado, os grandes temas da sociedade, o lugar dos imigrantes, para reunir uma maioria de eleitores.

O responsável pela rivalidade Copé-Fillon foi o fracasso da estratégia de Nicolas Sarkozy. Como a crise financeira o levou a abandonar a retórica ultraliberal que o elegeu em 2007, o ex-presidente francês disparou o alarme do populismo identitário. Objetivo: aproveitar as tentações xenófobas suscitadas pela crise para captar os eleitores assustados com a União Europeia e a globalização, contrários aos imigrantes e à liberalização dos costumes. Todos sabem o que resultou dessa "linha Buisson" que deveria drenar o eleitorado de Marine Le Pen.

Sarkozy, tendo guinado tanto para a direita com a campanha sobre a identidade nacional, a tentativa de revisar as naturalizações e os exageros anti-islâmicos, se revelou incapaz de mobilizar, entre o primeiro e o segundo turno, o eleitorado moderado que era indispensável para sua reeleição.

Em um país-continente que são os Estados Unidos, a derrota do candidato republicano, no dia 6 de novembro, resulta de uma conjuntura de analogias surpreendentes. O moderado Mitt Romney cedeu tanto aos radicais do Tea Party para conseguir a candidatura republicana – promessa de invalidar a lei Obama sobre o sistema de saúde, considerado "socialista", recusa em aumentar os impostos dos ricos e em regularizar os imigrantes irregulares, ambiguidade quanto ao direito ao aborto - , que seu brusco redirecionamento durante os dois meses que precederam a eleição não convenceu, mesmo diante de um Barack Obama prejudicado pelo alto índice de desemprego.

Dos dois lados do Atlântico, os dois candidatos conservadores tentaram em vão se mostrar como protetores não somente das classes favorecidas, mas também do povo prejudicado pela desindustrialização, pela ameaça da China, dos eleitores propensos a culpar os imigrantes pelo desemprego e assombrados por um sentimento de declínio.

Nos dois casos, a maioria dos eleitores preferiu o candidato menos reticente em defender as redes de segurança estatais – salvamento da General Motors, lei sobre a saúde para Obama, voluntarismo do poder público para François Hollande – diante dos sobressaltos da economia. Nos Estados Unidos, uma coalizão de fato entre os eleitores jovens, mulheres, negros e latinos garantiu a reeleição do presidente democrata. Na França, a mobilização dos jovens de 18 a 24 anos e dos eleitores muçulmanos – segundo as pesquisas, respectivamente 57% e 86% votaram em Hollande no segundo turno – contribuiu para a vitória do candidato socialista.

"Acho que há muito o que aprender com a reeleição de Barack Obama, mas também com a derrota de Mitt Romney", constatou o aliado de Fillon, François Baroin, ao "Le Figaro". "O Partido Republicano reduziu sua base eleitoral ao deslocar seu centro de gravidade para sua direita. O que aconteceu com eles também aconteceu conosco, e não quero que a UMP, grande partido de governo, perca de vista a lógica de união desejada por Jacques Chirac quando a criou".

Como sair dessa armadilha onde caíram os conservadores, entre um anti-estatismo enfraquecido pelos abusos do mercado financeiro, a defesa dos privilegiados que aliena as vítimas da crise e uma xenofobia galopante – anti-latinos nos Estados Unidos, anti-muçulmanos na França – , rejeitadas sobretudo pelos eleitores oriundos da imigração? Tais são os dilemas que alimentam tanto a rixa Copé-Fillon – lançada pela história inventada do "pão de chocolate" – quanto a crise do Partido Republicano nos Estados Unidos, provocada pelo fracasso dos malabarismos eleitorais de Romney.

Para além do barulho e do furor suscitados por uma disputa parisiense de egos, o mal-estar paralelo das direitas americana e francesa provavelmente marca o final de um ciclo político mundial iniciado pela "revolução conservadora" de Ronald Reagan nos anos 1980, cujo último representante francês foi Nicolas Sarkozy.

De ambos os lados do Atlântico, a guerra dos impostos, a menor interferência do Estado, a revisão das conquistas sociais, o nacionalismo, a crítica ao liberalismo pós-1968 em matéria de costumes, não são mais o suficiente para unir uma maioria. Análogas por suas origens, as crises de identidade atravessadas pelas duas direitas, francesa e americana, precisarão de profundas modernizações.

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